segunda-feira, 19 de maio de 2008

amor


O amor não tem formas
O amor não tem jeito
O amor não tem explicação, nem razão.
O amor não tem amarras.
Não tem conseqüências.
Não tem sofrimento.
Nem somente suspiros.
O amor não tem medo
O amor não tem posição.
Classe social
Cultura
Corpo
Cor
O amor é uma roda gigante desenfreada.
O amor é sorvete de flocos com cobertura de chocolate.
Ou simplesmente um chocolate imenso.
O amor é uma brisa leve tocando a pele no entardecer de frente ao mar.
Cobertor em noite de inverno.
O amor é toque.
Desejo
Carinho
Respeito.
Sonho
Calafrio
Vontade.
Abraço sem pedir.
Beijo sem pedir.
Sorriso sem pedir.
Amar sem pedir.
O amor é uma nuvem que vai crescendo aos poucos até ficar tão grande que faz chover.
E nos banha de felicidade.
E nos enlouquece.
E nos abriga.
E nos fortalece.
E nos engrandece.
E nos faz entender que somos muito mais que pensamos e muito menos do que gostaremos de ser um dia.
O amor é uma metáfora
Uma brincadeira
Um jogo
Um mistério.
Debaixo da minha cama eu guardo um baú vazio, a espera que um dia este tão falado AMOR apareça na soleira da minha porta. Quando isto acontecer, sorrateiramente eu o agarrarei com todas as minhas forças. Cuidadosamente o repousarei dentro do baú e lá dentro o alimentarei pelo resto da minha vida. Este baú, meu CORAÇÃO.
Antonio Ranieri
19/05/2008

terça-feira, 13 de maio de 2008

Oração à Ogum


Meu pai Ogum
Que a força de sua espada
Derrame sobre meu pobre ombro de homem
A gana para eu continuar seguindo.
Que daqui eu saia com dignidade
Com peito aberto para a vida.
Ilumine meu caminho meu pai.
Não deixe que os espinhos proliferem.
E que a justiça se faça valer.
Dando finalmente a mim
Aquilo que sou merecedor.

Antonio Ranieri
Outubro/2005

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Carrasco


E os suspiros dos choros juntos
E o suor junto
E o carinho junto
E eu? - Carrasco!

E o olhar junto
E o andar junto
E a respiração junto
E eu, carrasco.

E o sentimento junto
E o toque junto
E o cheiro junto
E eu carrasco.
E os lábios junto
E o sorriso tímido junto
E o medo junto
E eu carrasco.

E a solidão junto
E a separação junto
E a fidelidade junto
E eu carrasco?

E o cochicho junto
E a cumplicidade junto
E a entrega junto
E eu? Carrasco?

E a desesperança junto
E a falta junto
E a morbidez junto
E eu carrasco!!!

E eu carrasco junto
Junto com a dor
Junto com a infelicidade
Com a solidão
E a morte.

Antonio Ranieri
22/04/2008
Ensaio Subterfúgio

quinta-feira, 27 de março de 2008

O Vôo


Voa passarinho
A gaiola está aberta.
Voa passarinho.
Veja o horizonte que desponta a sua frente.
Voa passarinho.
Por entre prédios abandonados, pela praça iluminada, pelas ruas calorosas.
Voa passarinho com os outros pássaros que te rodeiam.
Passarinho voa.
Não te acostumes mais com minhas doses de cuidado.
Não te prendas mais a tua antiga morada.
As paredes foram destruídas.
A água que te banhava e saciava regou a flor de maio que surge timidamente.
A comida, sim a comida está guardada para caso um dia você precise, por que o amor jamais será descartado.
Sabe que no meu colo sempre terá afago,
Sempre terá conforto,
Sempre terá calor.
Mas por hoje voa passarinho.
Pelo menos por hoje eu preciso que você voe.
Teus gemidos soturnos.
Tuas penas saltitantes.
Teus bocejos desinteressados em minha companhia me magoam demais.
Teu desejo de cantarolar ao meu lado, é resistente como Amor escrito na areia.
Fulgás desaparece à medida que outros de tua plumagem se aproximam.
Passarinho voa.
Não me faça acreditar que sempre estará comigo.
Deixa que eu guarde de você a lembrança serena como o nosso quadro pintado de frente ao mar.
Por isso; voa passarinho.
Vagarosamente esqueça o tempo daqui te dentro.

Antonio Ranieri
23/03/2008

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

O CARA PINTADA


Acorda Cara Pintada!

Todos os dias o cara pintada acorda com o sonho de transformar o mundo. Acredita fielmente que pode mudar as pessoas que o cerca e que a vida perecerá sob justiça.
Por onde passa tem o olhar crítico. Veemente em suas convicções não aceita facilmente as coisas que a vida lhe impõe.
Nas ruas, não se conforma com o mendigo que dorme debaixo da goteira do suntuoso e superfaturado viaduto. Fica pasmo com os pedintes que de carro em carro lutam pelo ganha pão. Enfurece-se ainda mais quanto são crianças, manipuladas feito fantoches obrigadas a exibirem um falso e falho sorriso amarelado, à medida que jogam bolinhas coloridas ao alto, com a simples intenção de ganhar a atenção do motorista que de cara fechada sobe o vidro elétrico de seu blindado automóvel.
Cara Pintada no seu serviço não se submete as ordens do seu chefe, as discute , quer o que seja melhor a ambas as partes. Questiona, barganha, briga, enlouquece. Quando consegue o que quer, festeja, mas quando é contrariado se enfurece e de cara feia permanece o resto do expediente.
Critica a hierarquia, acredita que democracia é a palavra da vez. Sonha no dia em que as pessoas serão iguais, e que todos, sem exceção, serão tratados da mesma forma: sem graus, distintivos, valores diferenciados e salários tão desiguais.
No dia em que as pessoas não mais serão chamadas de: “RG, CPF, PIS/PASSEP”; entre outros códigos de barra. Assim como os bois: marcados para não fugirem do pasto, controlados de forma rígida pelos fazendeiros gordos, que os engordam todos os dias com a clara intenção de usufruir de seus corpos. Como a historinha infantil, onde a bruxa exuberante ri ao inchar o pobre garotinho preso em uma gaiola.
Na refeição, não sabe mais o que é pior, comer junto aos funcionários do seu departamento sabendo das conversas vazias, onde o assunto mais conflituoso é quem ganhará o reality show. Ou, saciar um bobó de camarão no restaurante típico no centro da cidade, onde novamente um pedinte separado dele apenas por uma fina camada de vidro, o afrontará, estendendo-lhe a mão com um olhar de súplica, implorando por ajuda.
- Isto é um roubo! – Grita Cara Pintada.
- Mais senhor, este é preço que o gerente colocou – explica o tímido frentista.
- Mas isto não deixa de ser um roubo! Finaliza enfurecido Cara Pintada.
Não se conforma com o inflacionário aumento no preso da gasolina e do álcool. Já não sabe mais se tinha valido a pena ter investido um pouco mais no carro “flex” adquirido. Talvez fosse melhor colocar a gás - pensava.
Em casa enfrenta o pai, acha que o mesmo não pode preteri-lo em relação ao irmão mais novo. Que o fator idade não deve ser o motivo para não mais ganhar a generosa mesada. Briga pelo controle remoto, pela ordem na fila na hora de tomar banho, pela camisa mal passada, pelo cachorro peludo que o persegue a todo o momento, e pela escolha do cardápio do dia. Sai de casa chutando a porta sem dar pelota à mãe, que carinhosamente lhe estende um prato de comida. Prefere comer um lanche no “fast-food” com os amigos, afinal eles o entendem – verbaliza.
Cara Pintada não agüenta mais tanta injustiça. Não entende porque a vida não é simples. Porque o amor não é natural e porque as pessoas passam a vida a procura da “Alma Gêmea” e nunca encontram. Por que menos de 1% da população é dona das maiores riquezas do mundo. O porquê as greves e os que não fazem greves. Do trânsito e dos que não possuem carro. Não entende a fome, a desigualdade social, o analfabetismo e a ignorância do mundo.
Cara pintada não aceita a vida e desconta toda a sua raiva nos amigos, nas famílias, nos colegas de escritórios, na galera da faculdade, na garçonete, no atendente, novamente no frentista, no barman, no terapeuta que o esperançosamente o seu pai insiste em pagar.
Sai pela rua com tanto ódio sem perceber o vermelho cintilando a sua frente.
Acorda Cara Pintada! – grita o Camarão sentado ao seu lado no carro preto rebaixado.

II

Cara Pintada acorda todas as manhãs sem a pretensão de transformar o mundo. Sabe que as grandes mudanças não acontecem por acaso e nem tudo depende dele.
A palavra fé foi atribuída a sua vida, hoje acredita num mundo diferente.
Ele acorda sem pressa. Tranquilamente toma seu café, em seguida sai a passear pelas ruas do seu bairro. Consegue perceber com outro olhar os transeuntes que desfilam e olham para ele com compaixão.
Ele não mais critica, nem tão pouco possui a ansiedade de antigamente. Não pensa a todo o momento em acertar e aceita que não veio nesta vida para fazer as coisas certas o tempo inteiro, mas que o bem, se empregado deve ser verdadeiro.
Como um pequeno bonsai que se desdobra ao sol, Cara Pintada hoje passa o dia a admirar o céu. Chega a passar horas observando o esverdeado beija-flor que salpica de um copo de leite ao outro, como se sambasse no ar.
Nos finais de semana divide seu tempo em ministrar aulas de informática para crianças de um orfanato, ou ficar com sua mãe na cozinha, seu passatempo predileto. Nos últimos meses tem aprendido todas as misteriosas receitas de família. Às vezes aparece com uma receita tirada da internet exibindo a foto de como ficará o prato finalizado.
Em todas as suas novas aventuras ele é acompanhado por “Gigante”, seu amigo, irmão, pai. Gigante é a pessoa mais próxima de Cara Pintada. Gigante são as pernas de Cara Pintada, as mesmas que ficaram atrofiadas após o acidente de carro que teve com seu amigo camarão, que não sobreviveu.
Cara Pintada Acordou! Viu que seu discurso não condizia com suas ações. E que não bastava querer mudar o mundo se ele não se mobilizava internamente.
Descobriu o verdadeiro significado de MEDIOCRIDADE e percebeu que mediano mesmo era as suas criticas: vazias e egocêntricas.
Hoje Cara Pintada está aberto a novos sonhos e conquistas, ciente de que ele é uma peça importante nas transformações do mundo, mas que não é o único. Que para alçar novos vôos mais do que nunca precisará da ajuda do outro, seja ele o gigante ou qualquer outro. E para isso deverá acima de tudo respeitar a opinião daqueles que o cercam.
Cara Pintada acordou e se envergonhou. Finalmente retirou a maquilagem falsificada de comunista de filmes “Hollywoodiano” e postou-se diante da vida.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Recado do Tempo


Atitudes abruptas e não reflexivas
Revelam reações à contra gosto, mas necessárias.
Se sua estupidez te cegas?
Se ela é o suficiente p/ você não perceber o como e quanto gosto de ti?
Cabe a mim o lamento.
Lamento pelo tempo não vivido;
Lamento pelo beijo não dado;
Lamento pelo corpo não selado;
Lamento pela covardia.
Minha?
Lamento...!
Mas lamento mesmo por lamentar,
Que triste esta palavra: LAMENTO.
Sensação de impotência, covardia, medo: Lamento.
Por hoje Pedi a Deus que tire de mim o lamento.
Porque o que eu não vivi, não senti.
E não sentindo, não há o porquê lamentar.
Hoje entre fanáticos e imagens de gesso, pedi a Deus...
Que me faça sorrir as conquistas diárias.
Que me faça reconhecer o valor daqueles que me cercam.
Que eu saiba ser generoso com o que me toca e tire de mim o medo de tocar aquele que amo!
Que eu possa olhar ao redor e saiba me expressar ao outro.
Que o faça ver o quanto és necessário em minha vida, mas sem frescuras.
Que um dia, eu não mais precise de signos para viver livre.
E que consiga fazer com que o outro perceba que és BELO.
Que EU pare com o EU e pense no VOCÊ.
E que VOCÊ consiga pensar no EU sem desviar o olhar,
Sem se esconder por trás dos seus fios castanhos,
Dos óculos;
Sem as bochechas rosarem, e nem o sorriso amarelar.
Por hoje eu pedi a Deus a vida.
Que padeça sob mim a virtude do amor...
Sem medo, sem receio e sem lamento.


27/01/2008 - 20:40h