quinta-feira, 27 de março de 2008

O Vôo


Voa passarinho
A gaiola está aberta.
Voa passarinho.
Veja o horizonte que desponta a sua frente.
Voa passarinho.
Por entre prédios abandonados, pela praça iluminada, pelas ruas calorosas.
Voa passarinho com os outros pássaros que te rodeiam.
Passarinho voa.
Não te acostumes mais com minhas doses de cuidado.
Não te prendas mais a tua antiga morada.
As paredes foram destruídas.
A água que te banhava e saciava regou a flor de maio que surge timidamente.
A comida, sim a comida está guardada para caso um dia você precise, por que o amor jamais será descartado.
Sabe que no meu colo sempre terá afago,
Sempre terá conforto,
Sempre terá calor.
Mas por hoje voa passarinho.
Pelo menos por hoje eu preciso que você voe.
Teus gemidos soturnos.
Tuas penas saltitantes.
Teus bocejos desinteressados em minha companhia me magoam demais.
Teu desejo de cantarolar ao meu lado, é resistente como Amor escrito na areia.
Fulgás desaparece à medida que outros de tua plumagem se aproximam.
Passarinho voa.
Não me faça acreditar que sempre estará comigo.
Deixa que eu guarde de você a lembrança serena como o nosso quadro pintado de frente ao mar.
Por isso; voa passarinho.
Vagarosamente esqueça o tempo daqui te dentro.

Antonio Ranieri
23/03/2008