sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Tc...


Oi ...
Oi...
Td bom?
Td e vc?
Tc de onde?
SP e vc?
Idem.
Idade?
35 e vc?
42.
Procura o que?
Ah sei lá..., a principio uma conversa..
Ah.. deixa quieto.
Mas...
*
Oi...
Oi...
Tc de onde?
Cara, quero sexo e vc?
Ah..., deixa quieto.
*
Oi...
Oi...
Td bem?
Td e vc?
Bem...tc de onde?
SP e vc?
Ah cara, muito longe to em Floripa, boa sorte.
*
Oi...
Ola.
Td bem?
Otimo, tc de Minas, solteiro, 1,85, 75kg, atlético e você?
Deixa pra lá, muito normal pra você.
*
Oi....
Oi....
Oi....
(silêncio)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

- Não Trisca em Mim!


Os gritos vieram de um carro com faróis acesso parado ao lado de uma arvore centenária, umas das ultimas que se pode encontrar no centro da cidade. De uma porta vestindo um pequeno vestido azul claro prateado, cabelos longos pretos e bagunçados, maquiagem forte quase que criando uma nova face e sapatos de salto alto nas mãos; “ELA” saiu correndo afobada. Da outra porta saiu um rapaz franzino, de calças jeans surradas, camisa bolo branca amarrotada, óculos finos e sapato marrom. ELE era muito branco e ainda mais por estar com uma impressão pálida e uma respiração ofegante.
- Não trisca em mim! Ela disse para ele apontando uma navalha.
- Me devolve o que você me roubou! Enfurecido pediu o rapaz.
- Não roubei nada de você, tá louco?
O rapaz, com muita raiva, partiu para cima dela querendo apanhar algo que lhe pertencia e a mesma novamente apontou a navalha para ele.
- Não trisca em mim, não sou mulher, sou travesti. Ta duvidando? Vou te furar!
- Você me roubou sua ladra. Vou chamar a polícia.
Aos berros começou a clamar por socorro, e por mais que fosse auge de uma madrugada quente de primavera e houvesse muitas pessoas na rua, ninguém ousou em se envolver no que estava acontecendo. E quando mais ele gritava pedindo ajuda, mais a “MENINA” se enfurecia, como se realmente tivesse feito algo de errado, como se realmente tivesse portando consigo algo que não era seu.
- Não trisca em mim, não sou mulher, sou travesti. Ta duvidando? Vou te furar! Repetia sistematicamente, sempre apontando a arma que trazia consigo. Aos poucos as luzes dos apartamentos começaram a acender, os cachorros começaram a uivar mais pessoas surgiram para ver o que estava acontecendo. Neste momento se aproveitando da balburdia e da falta de atenção do rapaz, ela saiu correndo pelas ruas e becos escuros do centro velho. Ele sem saber o que fazer e envergonhado por aquela situação, e mesmo passando muito mal, cada vez mais pálido, mesmo assim entrou em seu carro e saiu cantando pneu em sentido contrário ao dela.
Porta trancada, cadeados de todos os tamanhos, chaves e mais chaves e finalmente só. Largou a bolsa em cima da mesa e foi tomar banho. Suada, precisava tirar de si todas as marcas daquela noite, todos os vestígios do outro preso em seu corpo, cada saliva, cada suor, cada essência perdida no meio de suas pernas. Por trás da pesada maquilagem apareceu um menino com olhar triste, quase melancólico... Abriu a geladeira, retirou um pote de sorvete que ainda estava fechado, abriu e começou a comer. De onde estava, sentado no sofá observava atentamente a sua bolsa na cadeira. Ligou a TV nos seus desenhos prediletos e novamente voltou-se ao sorvete. Quando o pote chegou pela metade, já amolecendo; levantou, pegou a bolsa, sentou novamente, abriu-a e retirou dela um coração totalmente debilitado. Vagarosamente o colocou dentro do pote e o confortou no meio de todo aquele creme. Guardou no refrigerador, desligou a TV e foi dormir.

A.R... 11/12/2009

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Fuga...(z)


Ele afastou seus ombros delicadamente e levantou.
Ligou o chuveiro e esperou alguns segundos para que aquecesse.
De onde estava, podia admirar o seu corpo espreguiçando. Sorriu!
Ali por um instante ficou parado, como um menino bobo
Ao ganhar um presente tão esperado de Natal.
E lembrou-se de do dia em que se conheceram,
Do primeiro toque, do primeiro beijo.
Das mãos ativas e entrelaçadas no escuro do cinema.
Passaram dias, semanas... Dois meses até o dia de hoje.
Tinha trabalhado o dia inteiro e estava exausto.
E quase no final do expediente recebeu a mensagem que tanto esperava.
E todo o cansaço e peso do dia passaram num segundo.
Decidiram em se encontrar no ponto de ônibus,
Em frente ao mesmo cinema, de sessenta e quatro dias (precisamente) atrás.
Quando chegou buzinou e gentilmente abriu a porta.
- Oi.
- Ola.
E mais nenhuma palavra pelo caminho
Quando chegaram ao (local) deixaram na porta suas identidades.
Despiram-se de qualquer pudor, de qualquer referência.
Como se ali dentro pudessem ser o que quisessem... E podiam.
Entraram e ele deixou sua bolsa numa cadeira ao lado da cama.
Sentou-se sem saber o que dizer.
Tempo parado na altura do olhar.
Emudecidos arriscaram um abraço.
E a cola se deu pelo cheiro.
Então sentiu o mesmo frescor e intensidade da primeira vez.
Pele com pele, pêlo com pêlo.
Um pequeno rio de suor começava a se abrir no meio
Daquelas montanhas rochosas de carne.
Gritos, gemidos, sussurros não eram proibidos.
Mas só o que se podia ouvir era uma respiração forte e quente. Até o fim.
Esparramaram-se lado a lado, desacreditando não ser um só.
Então um adormeceu e outro delicadamente afastou seus ombros e levantou.
Lavou-se com dó, com medo que o se outro escorresse pelo seu corpo
Como uma gota em espuma se arrasta pela pele até alcançar o ralo.
Desligou o chuveiro e correu para apanhar a toalha esquecida no quarto.
Vestiu-se e antes de sair, foi até a cama e sorriu.
Um cafuné, uma carícia e um beijo tímido anunciaram a despedida.
Na cadeira pegou sua bolsa e de lá retirou sua essência preferida.
Banhou-se.
Mais uma espiada...; e saiu.
Dois lances de escada abaixo, uma volta brusca.
Eufórico, abriu a porta e ele ainda estava lá.
Abriu a bolsa, retirou o vidro de perfume, deixou nos pés da cama e partiu.