quarta-feira, 16 de maio de 2007

SE


Estava eu atuando e depois de tantos sinais que a mim apontavam como uma lanterna com defeito, mais parecendo um pisca alerta, tive uma sensação estranha e de repente me vi no papel do espectador.
Por um momento apreciei a minha atuação, como se fosse capaz de estar em dois lugares ao mesmo tempo.
Um gesto, um sorriso, um afago, um carinho, uma palavra...; silencio.
Bochechas rubras!
Um suspiro e uma descoberta, um pequeno e transformador detalhe que o público achava que sabia, ou supunha que existia, agora eu também via. Parei!
Hesitei.
Me excitei, sorri envergonhadamente e em seguida enfureci.
Gritei, berrei, urrei, chorei, chorei, chorei, relaxei e dormi.
Uma pausa, um intervalo, um final de semana, a separação entre dois atos.
Mas quando as cortinas reabriram, eu estava ali, e já não mais me reconhecia. Agora eu via o meu desejo refletido nas meninas dos olhos dos espectadores que tanto me alertavam e isso me assustava.
Emudeci.
Sem graça e sem palavras, hoje a coisa que mais me incomoda é: Se?

Antonio Ranieri
15/05/2007