sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Tc...


Oi ...
Oi...
Td bom?
Td e vc?
Tc de onde?
SP e vc?
Idem.
Idade?
35 e vc?
42.
Procura o que?
Ah sei lá..., a principio uma conversa..
Ah.. deixa quieto.
Mas...
*
Oi...
Oi...
Tc de onde?
Cara, quero sexo e vc?
Ah..., deixa quieto.
*
Oi...
Oi...
Td bem?
Td e vc?
Bem...tc de onde?
SP e vc?
Ah cara, muito longe to em Floripa, boa sorte.
*
Oi...
Ola.
Td bem?
Otimo, tc de Minas, solteiro, 1,85, 75kg, atlético e você?
Deixa pra lá, muito normal pra você.
*
Oi....
Oi....
Oi....
(silêncio)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

- Não Trisca em Mim!


Os gritos vieram de um carro com faróis acesso parado ao lado de uma arvore centenária, umas das ultimas que se pode encontrar no centro da cidade. De uma porta vestindo um pequeno vestido azul claro prateado, cabelos longos pretos e bagunçados, maquiagem forte quase que criando uma nova face e sapatos de salto alto nas mãos; “ELA” saiu correndo afobada. Da outra porta saiu um rapaz franzino, de calças jeans surradas, camisa bolo branca amarrotada, óculos finos e sapato marrom. ELE era muito branco e ainda mais por estar com uma impressão pálida e uma respiração ofegante.
- Não trisca em mim! Ela disse para ele apontando uma navalha.
- Me devolve o que você me roubou! Enfurecido pediu o rapaz.
- Não roubei nada de você, tá louco?
O rapaz, com muita raiva, partiu para cima dela querendo apanhar algo que lhe pertencia e a mesma novamente apontou a navalha para ele.
- Não trisca em mim, não sou mulher, sou travesti. Ta duvidando? Vou te furar!
- Você me roubou sua ladra. Vou chamar a polícia.
Aos berros começou a clamar por socorro, e por mais que fosse auge de uma madrugada quente de primavera e houvesse muitas pessoas na rua, ninguém ousou em se envolver no que estava acontecendo. E quando mais ele gritava pedindo ajuda, mais a “MENINA” se enfurecia, como se realmente tivesse feito algo de errado, como se realmente tivesse portando consigo algo que não era seu.
- Não trisca em mim, não sou mulher, sou travesti. Ta duvidando? Vou te furar! Repetia sistematicamente, sempre apontando a arma que trazia consigo. Aos poucos as luzes dos apartamentos começaram a acender, os cachorros começaram a uivar mais pessoas surgiram para ver o que estava acontecendo. Neste momento se aproveitando da balburdia e da falta de atenção do rapaz, ela saiu correndo pelas ruas e becos escuros do centro velho. Ele sem saber o que fazer e envergonhado por aquela situação, e mesmo passando muito mal, cada vez mais pálido, mesmo assim entrou em seu carro e saiu cantando pneu em sentido contrário ao dela.
Porta trancada, cadeados de todos os tamanhos, chaves e mais chaves e finalmente só. Largou a bolsa em cima da mesa e foi tomar banho. Suada, precisava tirar de si todas as marcas daquela noite, todos os vestígios do outro preso em seu corpo, cada saliva, cada suor, cada essência perdida no meio de suas pernas. Por trás da pesada maquilagem apareceu um menino com olhar triste, quase melancólico... Abriu a geladeira, retirou um pote de sorvete que ainda estava fechado, abriu e começou a comer. De onde estava, sentado no sofá observava atentamente a sua bolsa na cadeira. Ligou a TV nos seus desenhos prediletos e novamente voltou-se ao sorvete. Quando o pote chegou pela metade, já amolecendo; levantou, pegou a bolsa, sentou novamente, abriu-a e retirou dela um coração totalmente debilitado. Vagarosamente o colocou dentro do pote e o confortou no meio de todo aquele creme. Guardou no refrigerador, desligou a TV e foi dormir.

A.R... 11/12/2009

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Fuga...(z)


Ele afastou seus ombros delicadamente e levantou.
Ligou o chuveiro e esperou alguns segundos para que aquecesse.
De onde estava, podia admirar o seu corpo espreguiçando. Sorriu!
Ali por um instante ficou parado, como um menino bobo
Ao ganhar um presente tão esperado de Natal.
E lembrou-se de do dia em que se conheceram,
Do primeiro toque, do primeiro beijo.
Das mãos ativas e entrelaçadas no escuro do cinema.
Passaram dias, semanas... Dois meses até o dia de hoje.
Tinha trabalhado o dia inteiro e estava exausto.
E quase no final do expediente recebeu a mensagem que tanto esperava.
E todo o cansaço e peso do dia passaram num segundo.
Decidiram em se encontrar no ponto de ônibus,
Em frente ao mesmo cinema, de sessenta e quatro dias (precisamente) atrás.
Quando chegou buzinou e gentilmente abriu a porta.
- Oi.
- Ola.
E mais nenhuma palavra pelo caminho
Quando chegaram ao (local) deixaram na porta suas identidades.
Despiram-se de qualquer pudor, de qualquer referência.
Como se ali dentro pudessem ser o que quisessem... E podiam.
Entraram e ele deixou sua bolsa numa cadeira ao lado da cama.
Sentou-se sem saber o que dizer.
Tempo parado na altura do olhar.
Emudecidos arriscaram um abraço.
E a cola se deu pelo cheiro.
Então sentiu o mesmo frescor e intensidade da primeira vez.
Pele com pele, pêlo com pêlo.
Um pequeno rio de suor começava a se abrir no meio
Daquelas montanhas rochosas de carne.
Gritos, gemidos, sussurros não eram proibidos.
Mas só o que se podia ouvir era uma respiração forte e quente. Até o fim.
Esparramaram-se lado a lado, desacreditando não ser um só.
Então um adormeceu e outro delicadamente afastou seus ombros e levantou.
Lavou-se com dó, com medo que o se outro escorresse pelo seu corpo
Como uma gota em espuma se arrasta pela pele até alcançar o ralo.
Desligou o chuveiro e correu para apanhar a toalha esquecida no quarto.
Vestiu-se e antes de sair, foi até a cama e sorriu.
Um cafuné, uma carícia e um beijo tímido anunciaram a despedida.
Na cadeira pegou sua bolsa e de lá retirou sua essência preferida.
Banhou-se.
Mais uma espiada...; e saiu.
Dois lances de escada abaixo, uma volta brusca.
Eufórico, abriu a porta e ele ainda estava lá.
Abriu a bolsa, retirou o vidro de perfume, deixou nos pés da cama e partiu.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O Egoísmo De Todos Nós


Deste pequeno somos acostumados a sermos individualistas. Temos a NOSSA mamadeira, nosso cobertozinho, nossa “teta da mamãe”. Já na colégio temos que cuidar da nossa lancheira, do nosso material da escola, dos nossos livros, das nossas notas. Mais tarde nosso primeiro amor, nosso vestibular, nossas provas, nossos desejos e nossas conquistas, e nossos isso, nossos aquilo, nossos, nossos, nossos... E quando mais passa o tempo, mais coisas NOSSAS temos que possuir. No mundo capitalista em que vivemos estar em primeiro lugar é estar em voga. Ter todos os olhos voltados para você, se destacar de uma massa consolidada, contabilizada e reconhecida numericamente é como se você ganhasse um selo por não ser apenas mais uma ervilha como todas as outras uniformizadas numa lata de conserva. Nosso egoísmo está inteiramente relacionado às nossas escolhas. A todo o momento somos postos diante as decisões que poderão reverberar em nossa existência e dos que nos cercam. Depois de certo “amadurecimento”, percebemos que nossas escolhas não se resumem mais em escolher um sorvete ou uma bomba de chocolate, uma bicicleta ou um vídeo game. Qualquer ação gera uma reação de proporção inimaginável. Será que para sermos o que queremos ser, ter aquilo que tanto almejamos e viver de forma tranqüila, não conseguimos ser altruístas? Quem já não marcou aquele jantar com um amigo e ficou meia hora decidindo onde comer? Aquele cineminha que depois de tanto discutir acabam escolhendo o primeiro filme mela cueca que estiver passando? Aquela balada que agrade aos gostos distintos? Isso é o egoísmo que não consegue ficar dentro do peito e é fato que a intimidade o libera de forma despudorada e inconseqüente. Chega um momento nas relações humanas, seja ela pessoal, profissional, afetuosa ou romântica que as pessoas não se poupam mais em obedecer aos seus desejos, mesmos que eles sejam separatistas. E não é estranho depois de uma longa viagem, você parar ao lado de quem tanto ama e ver o outro colocar as malas dentro do carro com um destino diferente do seu. Ontem eu descobri algo novo que é o Egoísmo Mental e eles surge com duas facetas. A primeira dela facilmente poderia ser confundida com Inveja, pois é quando a pessoa envenena seus sonhos revelados com um belo sorriso e palavras de carinho e você só consegue perceber isso olhando nos olhos dela. Repare, dificilmente ela olhará nos seus olhos. A outra é quando você divulga algo tão desejado e a pessoa com o mesmo sorriso, as mesmas palavras de carinho e pior olhando nos seus olhos, deseja no fundo d’alma que esse seu sonho não se realize, pois ele automaticamente o afastaria das coisas que ambas tem em comum. O egoísmo é de todos nós, de todos mesmos, eu também tenho os meus, mas já faz tempo eu aprendi a ceder e você?

Antonio Ranieri (27.11.2009)

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

DESPERCEBIDO


Ele acordou com a água batendo no ouvido,
Mais um pouco estaria afogado em águas salgadas.
Quando se deu conta, estava sozinho.
Por mais que se esforçasse seu olhar contemplava o vazio.
E ficou com medo.
Pensou em gritar
Mas o mundo a sua volta estava surdo.
Pensou em sair correndo, se manifestar,
Mas suas pernas estavam paralisadas.
Com muito esforço esticou as mãos,
A resposta veio de imediato, o silêncio.
Mas ele só conseguiu perceber no meio da madrugada.
Então começou a chorar, e chorar e chorar,
E ficou com medo.
Medo de se cansar e despercebido afundar em seu próprio sofrimento.
Então teve pena de si mesmo e se lamentou.
E sofreu.
Sofreu pelo tempo perdido.
Pelas vitorias não alcançadas.
Pelos sonhos que a cada dia ficavam para trás.
E pelas frustrações.
Esta palavra a pior de todas.
Hoje ele estava frustrado!
Então teve vergonha de si e decidiu reagir.
De todas as formas tentou ganhar atenção do mundo.
Lutar, não deixar pra trás a “utopia” de menino.
E se esforçou.
E se esforçou se esforçou muito.
Sentiu uma leve fisgada, mas não parou com medo de perder tempo.
E se esforçou mais, e rapidamente começou a suar.
E se esforçou ainda mais, e os sentidos começaram a falhar.
Um a um os seus sentidos, foram cessando sem que ele percebesse.
Sua vontade de vencer, de ser alguém era tanta
Que não percebeu que seus sonhos
Suas ambições
Suas vontades
Tornaram-se maiores que sua própria vida.

A.R – 19/11/2009

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Até os urubus Riem


Sexta feira 13 é dia de se cuidar.
Tomar banho de sal grosso.
Mas como ele serve de limpeza é bom tomar um de rosas brancas para energizar.
Ascender uma vela para seu anjo da guarda ajuda muito.
Aproveite também e ascenda uma para seu santo preferido.
E uma para ganhar dinheiro, uma para ter saúde e quantas forem necessárias.

O grande desafio de andar hoje na grande metrópole, é fugir dos desagrados.
Se esquivar das escadas é quase impossível numa cidade que vive em reforma.
Passar longe dos gatos pretos morando no centro chega a ser piada.
No bolso: figa, arruda, dente de alho, sal, pimenta, tudo bem enroladinho num patuá.
Qualquer ação para se proteger é importantíssima.

Deste pequeno aprendi em que sexta feira 13 não se pode rir muito,
Pois no dia seguinte sempre vem o choro.
Assim como dizem que na sexta feira santa não se pode comer carne.
Crendices de família que eu nunca ousei desafiar.
Por via das duvidas iniciei meu dia mais sério do que nunca.

Parece que o dia de hoje ta sendo um teste.
Um monte de coisas bizarras acontecendo.
E como permanecer serio num dia todo,
Com tantas “babaguices’ que vemos ou vivenciamos por ai?

Hoje de manhã eu vi uma pessoa se lamentando à outra.
E a outra ria, gargalhava , mais parecia uma bruxa e não só pela aparência.
Menosprezava, ria e se divertia com o sofrimento da outra.
E dizia: “Nossa você precisa se benzer, sair dessa Uruca!”
Percebi no olhar da menina uma tristeza,
Como se fosse inútil, indiretamente pedir ajuda a outra.
Ela então se levantou, mas antes de sair olhou fulminantemente aquela que rolava de rir em sua poltrona pomposa estilo clássico, deixando claro sua “importância”.

Passado algumas horas aquela que ria muito
Estava saindo para o almoço com tal pressa, que seu dedinho do pé esquerdo não acompanhou o ritmo, e não vendo uma mesa a sua frente se estourou todo.
Naquele instante as gargalhadas enfadonhas dela se cessaram, dando espaço para um grito contido, afinal não poderia perder a classe, afinal ela era a comandante do lugar.

Por alguns instantes o silêncio. Mas quando saiu para ir à enfermaria o riso comeu solto.
No canto da sala como se ninguém estivesse notando sua presença, estava à pobre menina com sua profunda tristeza. Ela por sua vez vendo toda aquela cena, ofereceu ajuda. Em nenhum momento sorriu, ou riu do fato ocorrido. Então eu perguntei o porquê ela estava tão seria afinal tinha sido bem engraçado. Ela então me respondeu.
- Porque hoje é sexta feira 13. Tome cuidado, pois hoje até os urubus riem, mas não saem imunes.

Antonio Ranieri

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Carta a Velha Senhora


''Venho por meio desta'' informar que estou pronto para a viagem.

Pronto, pronto? - Eu não sei.

Mas isso não mais importa.

O fato é que estou disposto e entregue como nunca.

Sim, com muitas dúvidas, perguntas e afirmações.

Mas acreditando que elas serão sanadas com o tempo.

Se é que ele existe aonde vamos.

Minha bagagem está pronta

Antes de decidir pelo o que levar, fiz uma limpeza no meu armário.

Joguei fora todo o excesso, todo o exagero e tudo o que não valia à pena.

Rasguei as magoas, queimei as frustrações, destruí todas as dores presa no meu casco.

Ah, da saudade, eu despejei uma gota na minh'alma antes de sair de casa.

Comigo levo apenas o necessário.

A inocência de menino.

A lembrança dos amigos queridos.

O cheiro da família.

E a memória.

Mesmo sem saber se recordarei de algo após o sinal.

Até o momento você não me informou do preço da passagem.

Sei que o valor varia conforme a necessidade ou a ocasião.

Que no meu caso por ser às pressas e por vontade própria, deverá ser bem caro.

Talvez tenha que pagar por todo o sempre. Tudo bem!

Não precisa me informar agora.

Apenas não se esqueças de dizer no momento em que me der à mão.

O local, ainda não definido, tem me deixado irritado, confesso.

Durante dias, deste que conversamos, eu tenho a procurado.

Perambulo por diversos lugares, e em horários diferentes.

Mas nada de vir me buscar.

No alto da ponte, nos trilhos do trem, nas receitas médicas.

Onde me encontrarei com você?

Peço que você me adiante nada de como será minha nova morada.

Não quero que coisas pequenas e mundanas como o arrependimento me assole num momento de lucidez.

Por precaução estarei anestesiado.

Peço apenas que a viagem seja rápida e sem atritos ou desconfortos.

E não me abandone no meio do caminho, levando apenas metade de mim.

Peço apenas o que me foi prometido, a partida.

Por fim, peço que não demores.

Ou que me dê coragem para ir até você.

Até breve,

Anciosamente.



Antonio Ranieri (04/11/09)

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Instinto Pintado em Fênix


Se diário, se agenda, se calendário, se reta, se meta, se seta, se risco, se vivo, se infinco, se permito, se caminho, se proponho ou sonho; não importa. Consolido!


Enfim,
Olhando sempre na linha do horizonte
Viver sem medo.
Beijando me como um beija flor com sede.
Pele doce como o néctar necessário.

Da minha história
A única verdade.
A ansiedade o contraponto do equilíbrio
A necessidade, uma prioridade.
É redundante?

Acreditar
Confiar em mim e no outro.
No outro?
Sim, no outro!
Instinto pintado em fênix.

O Amor como a única ação.
Transformadora
Inovadora
Renovadora
E removedora.
Traço preciso como tatuagem
Espelho de si.

A paciência deixou de ser palavra
Virou símbolo.
Calar-se valorizou mais que moeda de troca.
Ser generoso no reflexo.
Amante na medida.
Menina dos olhos.

E por fim
Orar por lucidez.
E um dia eu. Eu ancião
Repousando minha carne
Num balanço fincando entre duas macieiras
Sorrindo e sentindo a brisa do mar.
Dizer sem medo que vivi.
Como um belo jogo.
Descobrindo e me aventurando
Como os caça tesouros
Que eu li nos tempos de menino



Antonio Ranieri - 22/7/09

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Os Macaquinhos de Piada



“ Não me interesso como as pessoas se movem e sim o que as movem”. Pina Bausch. (In memorian)



Matar ou morrer?
Abrir ou esconder?
Ser feliz ou entristecer?


****


No mundo do “Operação Abafa”, tenho percebido que estão todos se transformando em macaquinhos de piada. O CEGO, O SURDO E O MUDO.
O Cego se nega a ver as coisas que estão acontecendo a sua volta, os crimes passionais, os desastres naturais, as incompetências pessoais.
O Surdo se limita a não prestar atenção no outro. Não ouve um pedido de ajuda, não se dispõe a novas conquistas, não se abre ao que tem de mais humano. Este ao meu ver, é o pior dos “macacos”.
Já o Mudo, contenta-se em calar diante as atrocidades diárias, teme tomar qualquer posicionamento que o retire do estado confortável e mediocremente raso.
Em tempos de despedida, percebo que a mãe natureza “ta fazendo a rapa”. Um a um são levados para O Lugar Desconhecido. Uns são transportados em grupos, outros individualmente, mas todos com os seus medos, incertezas, glórias e histórias, são levados. Todos deixaram suas marcas independente do sucesso. Todos fizeram parte da vida de um outro ser humano e isso é o que há de mais lindo, A TROCA.
Se ser feliz é um estado de espírito? Porque tantas pessoas mesmo se elevando a seres supremos sofrem tanto? Pergunta angustiada do meu coração!
Passagem?
Ensinamento?
Carma?
Respostas que só saberemos ao decorrer da nossa caminhada, sozinhos, e no momento certo. Os desavisados dormirão durante toda a vida, passarão sem perceber o mágico que nela contem, não aprenderão nada, nem saberão o valor de um abraço verdadeiro. E depois de tudo, sem chances a mudanças, com os amigos em volta de si e olhos vedados, acordarão.
Em conversas depressivas de café, um amigo me disse:
- Nós só sofremos Tanto, porque queremos e tentamos melhorar!
Nossa como aquilo atacou meu fígado, e olha que não foi por causa do café pois não tomo. Conhecer-se, é um corte necessário em nossas entranhas, ficam cicatrizes, e uma vez começado não tem como você retroceder. Ir até o final é uma ordem. Querer voltar ao ponto de partida é impossível.
Neste caso se você iniciou sua jornada, não se acanhe, nem se desespere. A vontade de gritar e pular da ponte virá muitas vezes, pois o sofrimento faz parte do Menu, não é opcional. Mas saiba que é possível sim, você encontrar um recanto qualquer em anjos discretos que existem por ai. Como “Blanche Dubois”, ainda é possível acreditar na bondade humana, mesmo que possa aparecer que em volta de si só existam macaquinhos de piada.

Antonio Ranieri 03/07/2009.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

DESCONSTRUÇÃO


João da Silva
Acordou naquela manhã como se fosse a ultima.
Atravessou a cidade contemplando o trânsito.
Trabalhou como louco sem perceber que era sábado.
*
Tropeçou nos papéis como se tivesse bêbado.
Descansou no restaurante como se fosse o máximo.
Devorou a comida como uma máquina.
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe.
*
Olhou pela janela com olhar de espanto.
E viu um bicho parado com olhar perdido.
Agonizando na calçada como se fosse lógico
Suplicando ajuda com desespero aflito.
*
Contemplou aquilo como se fosse óbvio.
Ignorou se retirando como se fosse fácil.
Passou de longe como se tivesse medo.
Sem perceber o pacote imóvel como se fosse tímido.
*
Voltou para casa pelo mesmo caminho confuso.
Assistiu à televisão de uma cultura falsa.
Beijou seus filhos com carinho sórdido.
Dormiu com a certeza de um novo dia.
******
João da Silva
Acordou naquela manhã com olhar de espanto.
Correu pela cidade atrapalhando o trânsito.
Chorando sem ver o sábado mágico.
*
Tropeçou nos transeuntes como se fosse louco.
Apoiou-se no poste como se estivesse bêbado.
Mirou a janela com olhar de aflito.
Ao ver o bicho comendo lixo como se fosse príncipe.
*
Gritou de desespero como se fosse estúpido.
Passando a sentir uma utopia triste.
Sentiu a imundice da humanidade como se fosse lógico
E o peso do sofrimento como se fosse lindo.
*
Curvou-se na calçada como um pacote flácido.
Agonizou no chão numa solidão amarga.
Viu o monstro passar de longe com olhar de medo.
Sem perceber a dor que estava sentindo.
*
Desabou em lágrimas como se tivesse perdido.
Flutuou no ar como se fosse um pássaro.
Viu anjos chegarem numa alegria única.
Fechou os olhos sem a certeza de um novo dia.
*******
“Joões da Silva”
Acordaram naquela manhã como almas mortas.
Atravessaram a cidade em passos tímidos.
Seres apáticos não perceberam o sábado lindo.
*
Tropeçaram uns nos outros como se tivessem bêbados.
Gritaram na rua como se fossem loucos.
Cataram comida entre os detritos como se fosse ouro.
Engoliram com alvoroço como se fossem bichos.
*
Destruíram o mundo como se fosse fácil.
E construíram com tijolos um novo desenho ilógico.
Ignoraram-se como se fosse o óbvio.
E maltrataram-se como se fossem sádicos.
*
Não voltaram para casa, pois não lembravam o caminho.
E apodreceram na rua como indigentes.
Causando uma melodia de choros aflitos.
Culpada de uma irracionalidade utópica.
*
Amontoaram-se na praça como judeus no campo.
Agonizaram marcados por um símbolo sólido.
Suplicaram ajuda como se fossem vítimas.
Morreram na contramão implorando a vida.
Antonio Ranieri
(Espero que Buarque compreenda, que Bandeira e Pessoa atravessaram meu caminho nesta tarde fria).

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Faca Entre Os Dentes


A agressividade parece ser a única forma de abrir as portas.
Portas estão trancadas com chaves, cadeados, correntes, blindadas e seladas a base de maçarico. Hoje o mercado financeiro está cruel. Queda disso, queda daquilo, e pessoas perdendo por todos os lados. Publicam-se estatísticas de melhorias nas vendas, divulgam-se a retomada nos negócios, “marqueteiros “ de plantão esperam a primeira oportunidade para dar o “pulo do gato”, mas as portas ainda continuam fechadas. Pessoas encalacradas em suas residências temem qualquer movimento que fuja do habitual. Estão inseguras. Não acreditam no que vem na TV, no que o governo diz, nem tão pouco na propagandas ininterruptas que gritam o crescimento financeiro. Encontram-se presas. A seus medos, suas comodidades, suas dívidas, que há muito tempo deixou de ser uma bola de neve e virou um amontoado de contas a pagar.
A exceção virou regra.
Pesquisas apontaram esta semana que deste 1999 o índice de inadimplentes não atingia um numero tão avassalador. Hoje é difícil você encontrar uma pessoa com o nome limpo no mercado. Devido a esta crise? Também, mas não só isso. Inúmeros órgãos de cobrança como SPC, Serasa e afins, são criados diariamente para tentar resgatar dos devedores alguma coisa, entretanto, se você tenta negociar com a intenção de quitar, você sofre. Passa horas por dia ouvindo os jingles irritantes das empresas de telemarketing, e depois de tanto esforço recebe o numero de um protocolo do que nada adianta. Recentemente um conhecido, que estava com o seu nome numa dessas empresas de cobrança, perdeu uma oportunidade de emprego. Pois o contratante tem o praxe de “fuçar” toda a vida do futuro funcionário. Pasmem, isso é contra lei. No entanto este cidadão que perdeu o emprego vai ficar devendo por mais algum tempo.
A passividade ficou a cargo dos oprimidos.
Não agüento mais ouvir que em momento de crise devemos tomar cuidado com isso, se precaver daquilo, não arriscar naquilo outro. O que não me contaram, é que em momento de crise onde desesperados de plantão pulam de edifícios renomados, o que mais existe é inveja. Pessoas venenosas que só querem apagar a luz que temos, incapazes de mudarem suas rotinas para tentar uma vida melhor, medrosas. Não me assusta, nem me comove ao perceber que esses que hoje abrem a boca de espanto quando você anuncia uma conquista, são os mesmos que passam o domingo babando os apresentadores mumificados da TV aberta. Temem mudar de rota para chegar mais cedo em casa, aceitando passivos o trânsito caótico de SP. Perderam o romantismo, o brilho individual. São pessoas que se perderam com o tempo.
Em tempos de cegos, quem tem um olho é rei.
Chegou o momento em que precisamos mais do que arregaçar as mangas, muito mais do que ter sangue nos olhos. Como diz uma grande amiga e empreendedora, “Precisamos colocar a faca entre os dentes”. Não, não estou dizendo que devemos protagonizar um filme com “Stallone”, nem tão pouco cometer um dia de fúria a lá Michael Douglas, por mais que a vontade faça nosso corpo tremer. Precisamos começar a agir com inteligência. Isso é obvio, diria os desavisados. Mas não é. Devemos ficar atentos, estar a frente dos acontecimentos, sermos caçadores e tomar cuidado para não sermos ludibriados.



Antonio Ranieri (19/06/2009)






sexta-feira, 12 de junho de 2009

Um estado de Cidadania

Outro dia estava parado no farol, eis que vejo uma menina sorrindo enquanto ela abria o retrovisor do passageiro. Quando a menina percebeu que lá fora haviam dezenas de moradores de rua, seu sorriso foi se transformando até chegar numa feição triste e sem cor. Aquilo me desconcentrou de tal forma, que só percebi que o semáforo havia aberto, no momento que ouvi a buzinada de um “turbinado importado”, que como um flash passou ao meu lado sem perceber o que se passava do lado de fora das suas “lentes blindadas”. Hoje a cidade, como de costume em horário de pico estava parada. Eu esmagado por “trocentos” proletários, que como eu, seguiam rumo aos seus locais de trabalho. Da janela do ônibus, eu vejo um menino de aproximadamente seis anos de idade, dormindo no chão enfrente a um banco renomado. Paradoxo essa cena, pensei eu. Mas aquilo não era arte, era real. O menino tinha um tom amarelado, meio que sendo comido por vermes. Seus pés, bracinhos e cabelo, eram de uma camada grossa e negra de sujeira. Ele deitado em cima de uma placa de papelão, em posição de feto, se encolhia para suportar os 10ºC. E pessoas passavam por ele e não o viam. A faxineira do grandioso banco lavava seus vitrais, sem se dar conta de que a água ia em direção ao menino. O outro morador de rua envolto num cobertor, não se sensibilizava em ver ao seu lado uma criança. Ninguém via, e se olhava, virava-se rapidamente, ou por medo, ou por vergonha. Medo de um dia ter que se sujeitar a uma situação daquela, ou vergonha de não fazer nada para ajudar o ser humano que ali se contorcia.
Conforme o ônibus foi se movimentando, para minha total surpresa e indignação, formava-se um mar de pessoas deitadas no chão. Dormindo, encolhidas, cobertas por panos sujos, jornais, papelão, ou quaisquer outra coisa que amenizasse o frio. Abria-se a minha frente uma valeta de corpos sujos e cadavéricos, feito os que permeavam os campos de concentração nazista.
Naquele instante quis descer do ônibus e levar um pedaço de comida para aquela criança, tomado por um estado de cidadania, ou influenciado por um estado de bondade, ato retirado de um episodio do meu livro de cabeceira. O fato que minha vontade, logo foi interrompida pela pressão de corpos no sujo e não eficiente transporte público que me conduzia para o serviço. E logo pensei que não poderia chegar atrasado, pois afinal ainda estava em fase de testes na empresa. Porque afinal, quem tinha que resolver isso era o poder publico e não eu. Porque eu fui um Covarde. Sim um covarde. Eu covarde. Covarde os outros passageiros que viraram a cara não agüentando vislumbrar o que passava na rua. Covarde os governantes que não resolvem esse grave problema e sim maquilam, deslocando pessoas de um lado para o outro conforme a reclamação da comunidade local. Covarde a faxineira que lavava o banco e molhava o menino dormindo. Covarde todos. Todos nós COVARDES.

Antonio Ranieri
10/06/2009

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Pombas Urbanas

Um maldito rato voador cagou no meu “possante”.
Sempre ouvi dizer que é muito perigoso,
Que pode transmitir doenças e até cegar.
Fiquei desesperado.

Uma mão no volante e a outra no celular.
Minha irmã declarava:
- Corre com ele daí!
No atendimento,
Um sujeito bizarro com as mãos sujas de óleo disse:
- É, tem cura. Mas em alguns casos pode ser fatal!

Antes mesmo que eu percebesse, ele estava todo empipocado.
Então faltou lhe o ar e começou a empalidecer.
Engasgou.
E no meio da avenida, entre tantos outros da mesma espécie.
Morreu!

Faz dois dias que caminho sozinho e amargo.
Me divido entre ressuscitá-lo ou enterrá-lo de vez.
Armado de uma porção de ração
A espreita.
Espero os assassinos para me vingar.

Antonio Ranieri

04/06/2009

domingo, 31 de maio de 2009

De Volta ao Mundo de Malboro


A coluna envergou, não pelo peso de uma mala.
Nem pelo andar da idade.
Nem por doença que exigisse medicamentos.
E sim pela força do temporal, que colou em mim as vestes.
...
Regresso a minha cidade natal, feliz.
Acreditando vivenciar dias de sol,
Com sabor de música regional e bolinhos de chuva.
Orando que a urbanização
Não mi dilacere feito ritual ‘’canibalista’’.
...
Entre marginais, eu menino de uniforme
Volto para casa da escola, homem.
Com calos e casco gasto.
Sonho com o sabor do peito
E o cheiro doce de minha mãe.

Antonio Ranieri
01/06/2009

quinta-feira, 21 de maio de 2009

PREPARAR... APONTAR... ATIVAR !

Há algumas semanas uma Pulga com nome e endereço: “T.T”;
Mordeu meu cérebro.
O que causou uma serie de sintomas.
Mal estar, enjôo, alucinações e insônia, como hoje.
Ao consultar diversos especialistas, o diagnostico final foi o seguinte:
Obstrução de Veias Criativas.
Síndrome causada pelo acumulo de Informação cerebral.
Possivelmente contraído pelos amigos, família, amores, perturbados, loucos, Arte e tantos outros.
Passível de cura, sim.
Através de um tratamento rigoroso:
Expurgar, libertar, manifestar, registrar, arquivar, explorar e compartilhar.

Com esse ensejo DISSENSÃO diz um ola a todos!
Saindo discretamente do mundo das poesias e das cartas.
Ganha o universo das idéias, das crônicas e das críticas.

Dissensão: divergência de opiniões, interesses, sentimentos e disputas.

Por isso, não estranhe se aqui surgir de tudo, mas sinta-se a vontade para se surpreender com a DIVERSIDADE e fique LIVRE para participar.



Antonio Ranieri