sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Fuga...(z)


Ele afastou seus ombros delicadamente e levantou.
Ligou o chuveiro e esperou alguns segundos para que aquecesse.
De onde estava, podia admirar o seu corpo espreguiçando. Sorriu!
Ali por um instante ficou parado, como um menino bobo
Ao ganhar um presente tão esperado de Natal.
E lembrou-se de do dia em que se conheceram,
Do primeiro toque, do primeiro beijo.
Das mãos ativas e entrelaçadas no escuro do cinema.
Passaram dias, semanas... Dois meses até o dia de hoje.
Tinha trabalhado o dia inteiro e estava exausto.
E quase no final do expediente recebeu a mensagem que tanto esperava.
E todo o cansaço e peso do dia passaram num segundo.
Decidiram em se encontrar no ponto de ônibus,
Em frente ao mesmo cinema, de sessenta e quatro dias (precisamente) atrás.
Quando chegou buzinou e gentilmente abriu a porta.
- Oi.
- Ola.
E mais nenhuma palavra pelo caminho
Quando chegaram ao (local) deixaram na porta suas identidades.
Despiram-se de qualquer pudor, de qualquer referência.
Como se ali dentro pudessem ser o que quisessem... E podiam.
Entraram e ele deixou sua bolsa numa cadeira ao lado da cama.
Sentou-se sem saber o que dizer.
Tempo parado na altura do olhar.
Emudecidos arriscaram um abraço.
E a cola se deu pelo cheiro.
Então sentiu o mesmo frescor e intensidade da primeira vez.
Pele com pele, pêlo com pêlo.
Um pequeno rio de suor começava a se abrir no meio
Daquelas montanhas rochosas de carne.
Gritos, gemidos, sussurros não eram proibidos.
Mas só o que se podia ouvir era uma respiração forte e quente. Até o fim.
Esparramaram-se lado a lado, desacreditando não ser um só.
Então um adormeceu e outro delicadamente afastou seus ombros e levantou.
Lavou-se com dó, com medo que o se outro escorresse pelo seu corpo
Como uma gota em espuma se arrasta pela pele até alcançar o ralo.
Desligou o chuveiro e correu para apanhar a toalha esquecida no quarto.
Vestiu-se e antes de sair, foi até a cama e sorriu.
Um cafuné, uma carícia e um beijo tímido anunciaram a despedida.
Na cadeira pegou sua bolsa e de lá retirou sua essência preferida.
Banhou-se.
Mais uma espiada...; e saiu.
Dois lances de escada abaixo, uma volta brusca.
Eufórico, abriu a porta e ele ainda estava lá.
Abriu a bolsa, retirou o vidro de perfume, deixou nos pés da cama e partiu.