sexta-feira, 19 de junho de 2009

Faca Entre Os Dentes


A agressividade parece ser a única forma de abrir as portas.
Portas estão trancadas com chaves, cadeados, correntes, blindadas e seladas a base de maçarico. Hoje o mercado financeiro está cruel. Queda disso, queda daquilo, e pessoas perdendo por todos os lados. Publicam-se estatísticas de melhorias nas vendas, divulgam-se a retomada nos negócios, “marqueteiros “ de plantão esperam a primeira oportunidade para dar o “pulo do gato”, mas as portas ainda continuam fechadas. Pessoas encalacradas em suas residências temem qualquer movimento que fuja do habitual. Estão inseguras. Não acreditam no que vem na TV, no que o governo diz, nem tão pouco na propagandas ininterruptas que gritam o crescimento financeiro. Encontram-se presas. A seus medos, suas comodidades, suas dívidas, que há muito tempo deixou de ser uma bola de neve e virou um amontoado de contas a pagar.
A exceção virou regra.
Pesquisas apontaram esta semana que deste 1999 o índice de inadimplentes não atingia um numero tão avassalador. Hoje é difícil você encontrar uma pessoa com o nome limpo no mercado. Devido a esta crise? Também, mas não só isso. Inúmeros órgãos de cobrança como SPC, Serasa e afins, são criados diariamente para tentar resgatar dos devedores alguma coisa, entretanto, se você tenta negociar com a intenção de quitar, você sofre. Passa horas por dia ouvindo os jingles irritantes das empresas de telemarketing, e depois de tanto esforço recebe o numero de um protocolo do que nada adianta. Recentemente um conhecido, que estava com o seu nome numa dessas empresas de cobrança, perdeu uma oportunidade de emprego. Pois o contratante tem o praxe de “fuçar” toda a vida do futuro funcionário. Pasmem, isso é contra lei. No entanto este cidadão que perdeu o emprego vai ficar devendo por mais algum tempo.
A passividade ficou a cargo dos oprimidos.
Não agüento mais ouvir que em momento de crise devemos tomar cuidado com isso, se precaver daquilo, não arriscar naquilo outro. O que não me contaram, é que em momento de crise onde desesperados de plantão pulam de edifícios renomados, o que mais existe é inveja. Pessoas venenosas que só querem apagar a luz que temos, incapazes de mudarem suas rotinas para tentar uma vida melhor, medrosas. Não me assusta, nem me comove ao perceber que esses que hoje abrem a boca de espanto quando você anuncia uma conquista, são os mesmos que passam o domingo babando os apresentadores mumificados da TV aberta. Temem mudar de rota para chegar mais cedo em casa, aceitando passivos o trânsito caótico de SP. Perderam o romantismo, o brilho individual. São pessoas que se perderam com o tempo.
Em tempos de cegos, quem tem um olho é rei.
Chegou o momento em que precisamos mais do que arregaçar as mangas, muito mais do que ter sangue nos olhos. Como diz uma grande amiga e empreendedora, “Precisamos colocar a faca entre os dentes”. Não, não estou dizendo que devemos protagonizar um filme com “Stallone”, nem tão pouco cometer um dia de fúria a lá Michael Douglas, por mais que a vontade faça nosso corpo tremer. Precisamos começar a agir com inteligência. Isso é obvio, diria os desavisados. Mas não é. Devemos ficar atentos, estar a frente dos acontecimentos, sermos caçadores e tomar cuidado para não sermos ludibriados.



Antonio Ranieri (19/06/2009)