sexta-feira, 6 de julho de 2007

pelo suor



Pelo suor escorriam aquelas que não podiam descer pelos meus olhos.
Pelo suor passava tudo àquilo que se retorcia em meu ser.
Pelo suor eu sentia meu corpo desinchado, à medida que minha alma pendia cada vez mais.
Pelo suor eu tentava me libertar do que me sufocava.
Como um lapso meu corpo pulava sem controle.
Como um louco corria sem rumo, sem estrada e sem objetivo.
Barulhos distorcidos, quase grunhidos de seres fortemente apáticos e robotizados.
Uma hélice estridente como uma gralha destrambelhada, dava a todos uma sensação de alívio.
E eu, ali, compulsivamente deslizando numa borracha negra, rumo a lugar nenhum. Na medida em que meus pensamentos se perdiam em longos caminhos negros, longos caminhos obscuros e desconhecidos.
Entre dentes me pegava e em ódio eu me vi...
Gritando à medida que o saco de areia pedia que ali jogasse toda a minha raiva.
Os socos, os chutes foram tantos e tão fortes que de repente um, dois, três, diversos furos fizeram escorrer uma areia fina e amarelada, dando ao salão um aspecto quase praiano.
Meu abdômen, minha coluna, minhas pernas, o que mais trabalhar?
O que??
E ainda sim meus pensamentos ferrenhos permaneciam.
E ainda sim minha ulcera que me consumia.
E novamente percebi que pelo suor escorriam minhas lástimas, minhas dores, meus anseios, meus pecados e meus medos.
Pelo suor novamente expus meu sofrimento. Um suor forte, uma gordura com cheiro forte, uma ânsia, um desespero, um grito, um gemido e uma barra de ferro a minha frente esperando ansiosa que ali prosseguisse na minha consumição alucinógena a espera ácida de mais uma gota de suor.


Antonio Ranieri
21/04/2006