domingo, 18 de abril de 2010

Somente um beijo e Adeus I



Faz um tempo que as coceiras começaram. Pensei se tratar das pulgas espaçosas, rainhas do talco. Outrora acreditei serem os bernes alojando-se em minha casca, ansiosos a espera do inverno. Por fim supus uma infecção contagiosa e fatal, que tivesse de uma vez por todas decidido dar cabo de mim, da unha do dedo mindinho do pé esquerdo, ao fio de cabelo inexistente. Porém, nada de respostas me vinham do que estava acontecendo.
Depois de passar e infestar as lacunas da minha geografia, finalmente repousou tranquilamente em minha caixa torácica. A dor lancinante agora dava espaço a uma coceira intermitente.
Inquieto, cansado, e bem aflito, procurei por uma “LUZ” que me tranqüilizasse e por fim o médico. Confesso que por diversas vezes me arrumei e caminhei em sua direção, mas o medo do diagnóstico, da agulha, e da recomendação de psicotrópicos me imobilizaram e me deixaram sem ação.

A terapeuta exclamou:

- Porque você sempre fica com aquilo que não existe?

A entidade esfumaçou em minha face e disse:

- Mice fio, ocê precisa aquetar teu coração. (E me lavou nas águas de Oxum)

Amigos partiram, um viajou, outro mudou, outro se retirou de cena, como se as besteiras e dissensões fugazes fosse mais importantes do que o ponteiro menor marcou durante toda sua estada ao meu lado. A família virou as costas deixando lembranças e vínculos sentimentais difíceis de quebrar, difíceis de conciliar. Porém outros queridos começaram a aparecer e ocupar seus cantos, só que desavisados e não aptos ainda a decifrar meus códigos, uns calaram-se, outros com suas pseudo-idiossincrasias explanaram, o fato é que apenas os mais sensíveis, suspiraram e me abraçaram. (Alívio Momentâneo).
A.R. 15.04.2010

2 comentários:

Unknown disse...

Rani, como eu disse anteriormente, texto triste, mas lindo, ele realmente retrata uma pessoa que eu conheço, ou melhor estou aos poucos conhecendo. Aliás, umas das pessoas mais verdadeiras que já estiveram em minha vida... ah, a imagem do texto diz tudo... parabéns meu poeta... Marcelo Régis

Emilie disse...

...que bom te encontrar por aqui novamente! Fico feliz em saber que você não se esqueceu!